domingo, 16 de abril de 2017

Sobre titulares e reservas

Quando onze atletas envergam a camisa Tricolor para jogar uma partida de futebol, quem entra em campo? Sem qualquer esforço responderemos: o Fluminense Football Club. Sob o comando de Abel Braga, porém, costumeiramente se tem feito a diferenciação entre titulares e reservas.

Até a partida contra o Goiás, o Fluminense (o titular) ainda não havia perdido um jogo sequer, enquanto o outro, o reserva, vinha de três malogros: contra o Internacional, o Nova Iguaçu e o Botafogo. E Abelão ainda era cuidadoso em relação ao tema, preferindo enaltecer as qualidades do grupo como um todo, sem comparar, pelo menos explicitamente, reservas e titulares.

A derrota para o esmeraldino, porém, mudou essa percepção de ver o Fluminense em Abel Braga. É bom que se frise que foi uma derrota atípica, que não ocorreria se uma sucessão de infortúnios acometessem o Tricolor. Em condições normais, o Fluminense praticamente sairia do Serra Dourado classificado para a próxima fase da Copa do Brasil.

Mas aí, ao fim do jogo, Abelão relembra a quem já havia esquecido que aquela fora a primeira derrota do time titular Tricolor. Ora, foi a primeira derrota do time titular ou a quarta do time do Fluminense?

A equipe, teoricamente titular do Fluminense, não é imbatível. Perdeu, é certo, um jogo que venceria até com sobras, mas perdeu. Como perderá outras partidas ao longo do ano. Ao dizer que foi a primeira derrota do time titular do Flu, penso eu, Abel erra duas vezes: quando diferencia titulares e reservas, prestigiando os primeiros e desprestigiando os segundos e ao incutir, ainda que sem desejar isso explicitamente, na equipe dita principal um sentimento de invencibilidade.

Essa diferenciação serve ao torcedor, que avalia, em regra, que temos um bom time principal e que o reserva serve mais para se observar alguns nomes que se prestem à composição do elenco. Ambos, no entanto, com a mesma alma que Abel prometeu dar ao Flu quando assumiu a equipe.

E esse torcedor sabe que o Fluminense (dito titular) é uma equipe difícil de ser batida e que só perdeu o primeiro jogo do ano para o Goiás em condições bastante adversas. Para Abel, porém, o pensamento deve ser o de que foi a quarta derrota no ano do Fluminense e que, para se atingir um nível de excelência, ainda precisa melhorar muito como um todo. Um todo de titulares e reservas.

Afinal de contas, se Abelão usa a equipe considerada “alternativa” em partidas importantes, como foram as contra o Inter e contra o Botafogo, é porque confia no seu grupo e deve, por isso, tratá-lo igualitariamente. Não só nas vitórias (ou nas boas apresentações, como no empate contra o Flamengo em Cariacica), mas sobretudo nas derrotas.

Abelão é o comandante em chefe desse grupo, mas se criar distinções poderá fragmentá-lo. E aí perderá a mão e o comando de uma equipe que tem tudo para dar certo.

domingo, 2 de abril de 2017

Decisão equivocada

Não tenho a mesma convicção que muitos tricolores têm ao garantirem que Abel faz certo em poupar todo o time titular do Fluminense para a partida contra o Flamengo, que será realizada logo mais em Cariacica/ES.

O argumento de que na semana que vem teremos um jogo muito mais importante, contra o Liverpool do Uruguai pela Sulamericana, se justifica apenas em parte. É claro que, com a medida, evita-se o risco de alguma lesão mais séria, sem se falar em eventual desgaste dos jogadores, já sufocados pela massacrante sequência de jogos neste início de temporada.

Mas, a fim de relativizar esses argumentos, eu poderia dizer que enfrentar um Flamengo, que porá sua força máxima em campo, com um time de reservas é uma atitude no mínimo temerária. Trata-se de um clássico, trata-se de um Flamengo e uma eventual derrota, e pior se for acachapante, poderá interferir negativamente no moral da equipe para o jogo pela Sulamericana.

Não creio que alguma perda por lesão de algum jogador possa ser mais comprometedora para o sucesso da equipe contra o Liverpool do que uma eventual humilhante derrota. É esse o risco que se corre quando se enfrenta uma qualificada equipe titular com jogadores reservas, jogo que já seria complicado se tivéssemos nossos principais jogadores em campo.

Além disso, em que pese a desproporção entre as competições, Flamengo é Flamengo e Liverpool é Liverpool, cuja equipe não tem tradição e grandeza para superar o Flu aqui no Rio, ainda que o Tricolor jogue com um e outro desfalque. O futebol é uma caixa de surpresas, mas em condições normais de temperatura e pressão, o Flu, como tem jogado, é favorito na partida contra a equipe uruguaia.

E ainda acrescento mais um argumento contrário à decisão de Abel: vencemos Vasco e conquistamos a Taça Guanabara sobre o mesmo Flamengo após desgastantes jogos no meio da semana, enquanto nossos adversários descansaram, prova de que tempo para descansar e treinar não significa necessariamente sucesso.

Evidentemente, se a partida fosse contra a Portuguesa eu não me arriscaria a criticar a postura de Abelão, mas, num clássico, penso eu, não se deve correr tamanho risco.

Abel tomou a decisão de acordo com a sua convicção. Está com o time nas mãos e confia nos seus comandados, mas deverá assumir as consequências se as coisas não saírem como planejadas. Em clássicos não se poupam jogadores, sobretudo todo o time titular, porquanto são jogos que valem como decisões e, se há sucesso, o fator motivacional para o próximo jogo será sempre maior, mas, em caso contrário, o psicológico poderá ser seriamente afetado.

Abelão deve saber o que faz, tem crédito com a torcida, mas não seria apropriado abrir mão disso justamente agora, numa partida que não vale nada para a competição, mas que tem na rivalidade o principal ingrediente para que as equipes entrem sempre com força máxima.


Espero, sinceramente, que eu esteja errado e que o planejamento de Abel funcione como previsto. Ele ganhará mais crédito e confiança da torcida e todos nós sairemos ganhando com os objetivos alcançados.

domingo, 26 de março de 2017

Um bruto que ama

Abel é um homem que transborda emoções. Não à toa, quando veio para o Flu, prometeu dar nova alma ao Tricolor, pois só atinge a alma de alguém a emoção mais pura. Toda essa sinceridade, toda essa paixão, que se mostra no seu olhar esbugalhado, nas bochechas vermelhas, no falar embargado, deram uma nova vida ao Fluminense.

Após a vitória sobre o Botafogo, em tom de galhofa, perguntei a mim mesmo como seria levar um “esporro” do Abelão, uma bronca que tem o poder de mudar o resultado de uma partida, impregnando os jogadores de brio.

Ao assistir à sua entrevista coletiva logo depois do jogo, deu para se ter uma pequena amostra desse “fator motivacional” ao estilo Abel Braga. Nosso simpático treinador mandou todo mundo para “aquele lugar”, mandou todo mundo tomar “no lugar que ninguém gosta”, e perdeu a voz de tanto “motivar” seu grupo. Deu certo.

É assim mesmo que se deve agir quando uma equipe parece estar dormindo dentro de campo. O vestiário é para isso. Mas como manter essa sinceridade explícita de Abelão intra-vestiário? Seria realmente necessário evitar a publicidade dessa conversa acalorada?

Abel é o que é. Tolher sua forma de pensar e agir seria descaracterizá-lo, e nem acredito que alguém tivesse esse poder, nem mesmo seu patrão, o presidente do Fluminense. Abelão é espontâneo, e, embora possa parecer a muitos uma inconveniência, o treinador não diz nada muito diferente diante das câmeras do que diz aos seu comandados.

É essa proximidade, através de uma linguagem popular, do seu jeitão abrupto e do seu estilo “paizão”, que torna Abelão um treinador compreendido e por seus jogadores. E não duvido de que também o amem, porque da mesma forma que dá suas palmadas, também afaga.

Não gosto do perfil “engomadinho” à beira do campo. Um treinador deveria usar o mesmo uniforme do time, como um décimo segundo jogador que atuasse na sua área reservada. Esse é o seu papel: orientar, brigar, incentivar, aplaudir. E Abel Braga faz isso do seu jeito peculiar, e é ouvido até por quem não entende a nossa língua com perfeição.

Portanto, deixemos Abel ser o que é. Ao contrário de alguns que usam as entrevistas para transferir responsabilidades, ele, apesar de toda a sua “brutalidade”  com as palavras, só faz proteger seus jogadores.


Abelão foi a mais importante contratação do Fluminense para a temporada, portanto, deixemo-lo trabalhar do jeito que sabe, pois foi assim que conquistou os maiores títulos de sua carreira, um ex-zagueiro que é, como treinador, o que foi como jogador: um bruto que ama.

domingo, 19 de março de 2017

Transparência

Apesar de todo o esforço da atual gestão Tricolor, o Fluminense terá um déficit de 75 milhões em seu orçamento para 2017, fruto do legado da gestão anterior, pródiga na realização de maus contratos, cujas longevidades permitiram que adentrassem nesta nova Administração e contribuíssem para sobrecarregar a já assoberbada folha salarial tricolor, embora a maior parte dos beneficiários nem mesmo estejam sendo aproveitados pelo técnico Abel Braga.

Além disso, a ausência de um patrocinador master contribui sobremaneira para que a constatação elaborada pela empresa de consultoria Ernst & Young, com a qual o clube já trabalha em parceria, seja um sinal de alerta para que o Fluminense aperte os cintos e procure formas alternativas de receitas.

Parece certo que um jogador valorizado será vendido. O presidente Abad nunca escondeu que uma negociação desse tipo poderia ocorrer e, provavelmente será. O Flu já fechou com a Under Armour, cujos valores ainda não foram divulgados por força contratual e, mais recentemente, com a TIM (VOXX), mas ainda é pouco.

Falta o tal do patrocínio master. O Tricolor não fechou com a Caixa por discordância quanto aos valores oferecidos pela empresa pública. Entendeu que eram baixos, e eram. De toda a sorte, Abad e sua equipe devem trabalhar com afinco para encontrar um patrocínio à altura do Flu, o que não é nada fácil em tempos de crise.

Como outra opção de receita, vale lembrar que o Flu tem um número de sócios-torcedores bem aquém do seu potencial. É importante, assim, que aproveite o bom momento em campo para alavancar novos sócios, embora seja sempre bom lembrar que esse tipo de receita oscila – infelizmente – de acordo com a fase do time.

Já que falamos de sócio-torcedor, fica a minha sugestão: que tal uma ou mais cotas-extras, sem caráter obrigatório, é claro, postas à disposição do sócio num site, para que contribua de acordo com sua capacidade financeira. Toda forma de contribuição será bem-vinda.

Diante desses números, dá para se imaginar que não teremos muito além do que já temos em termos de elenco. É com esse time que o Flu perseguirá seus principais objetivos na temporada e, portanto, é bom que a torcida se prepare para aceitar eventual decepção.

Temos um time que está se desdobrando dentro de campo, do jeito que pode, e sob o comando de um cara que ama o Fluminense e está disposto a fazer de tudo para ajudá-lo, e isso deve ser valorizado. Pior seria se, afundado em dívidas, estivéssemos, também, chafurdando dentro de campo. Estamos indo, por enquanto, e que seja assim até que as coisas entrem novamente nos eixos e o Flu possa novamente respirar com suas finanças em dia.

De toda a sorte, deve ser elogiada a postura do presidente Abad em divulgar uma notícia que pode ser considerada negativa, porque é a publicidade que aproxima o clube de seu torcedor, e impede que informações distorcidas conturbem o seu ambiente.


Sorte, Fluminense, porque parece que competência já há. Tornemos ao caminho que nos conduziu às maiores glórias, com humildade, competência e transparência, sempre.

domingo, 5 de março de 2017

Fla-Flu da paz

Yitzhak Rabin foi um general e político israelense, um dos ganhadores do prêmio Nobel da Paz de 1994 por ter se engajado na aprovação do Acordo de Paz de Oslo, que deu origem à Autoridade Nacional Palestina e por seus esforços de paz com os países do Oriente Médio. Foi assassinado durante um comício em 1995 por um estudante de extrema direita que se opunha ao acordo de paz com os palestinos e outros países árabes.

Pedro Abad é presidente do Fluminense e tem se engajado na luta pela paz no futebol em um dos estados da federação mais violentos do país. Para isso, propôs recurso juntamente com o C.R. Flamengo para que uma liminar desarrazoada que limitava o público nos clássicos regionais a uma só torcida fosse derrubada. O recurso jurídico alcançou seu objetivo e a decisão da Taça Guanabara será realizada com as duas torcidas. Hoje pela manhã, os dois presidentes, reunidos nas Laranjeiras, deram uma coletiva para anunciar o sucesso no recurso e a logística da partida.

Palestinos e judeus, tricolores e rubro-negros, o que têm a ver? Absolutamente nada. Política, religião e esporte não se misturam, ou não deveriam se misturar. Assemelham-se, contudo, as situações quando tratamos dos radicais, cujas ações odiosas, guardadas as devidas proporções, são perpetradas no sentido de que a paz não se estabeleça, seja no campo de batalha, seja no campo esportivo.

Flamengo e Fluminense sempre foram rivais dentro de campo. Não há dúvida, também, de que o clube da Gávea, apoiado pela imprensa fiel, já agiu ostensivamente para prejudicar-nos em mais de uma oportunidade. E o que tem o Fluminense com isso? O presidente Abad, quando interpôs o recurso contra a decisão da torcida única não fez isso pelo rival, embora tal decisão o favorecesse. Fez por seus princípios, pela tradição fidalga do Fluminense, pela coerência com o princípio de que o futebol se faz com times, mas também com torcidas, fez pelo espírito do esporte, fez por Oscar Cox.

O Fluminense, agindo da forma que agiu, inclusive convidando o presidente rubro-negro a respirar o sacrossanto ar das Laranjeiras, deu um exemplo formidável de como clubes arquirrivais dentro de campo podem conviver em harmonia fora dele. Pela grandiosidade das partes envolvidas, pelo tamanho das rivalidades, essa manifestação conjunta pode ser considerada, talvez, a maior já realizada no futebol brasileiro e o marco inicial para que a paz gradativamente retorne ao futebol.

Utopia que seja, prefiro um gesto dessa grandeza ao que um dirigente do próprio rubro-negro protagonizou nas redes sociais logo após a festa do Oscar. Ninguém precisa desse tipo de boçalidade que, menos do que ser engraçada, aguça os ódios dos já predispostos à violência.

Se do lado de lá há sinal de boa vontade, ótimo. Se não houver na semana que vem, ótimo, também. O que verdadeiramente importa é o Fluminense agir de acordo com seus princípios de ética e moral, buscando, ainda que juridicamente, a reparação de qualquer injustiça perpetrada contra a instituição, contra o seu torcedor, contra todo o torcedor.

O Fluminense, vale repetir, não lutou pelos interesses do Flamengo, buscou a realização de sua própria história de lutas pela ética desportiva. Calar-se diante disso por interesses mesquinhos mancharia indelevelmente a nossa reputação futebolística.

Tínhamos o direito ao nosso lado, mas abrimos mão dele para lutarmos por Justiça. Lição dada a todo o Brasil e, inclusive, ao Flamengo. Tenho a certeza de que robustecemos a nossa dignidade e que, lá na Gávea, eles devem ter aprendido que “roubado não é mais gostoso”. Se isso aconteceu, somos vitoriosos duas vezes.


E que a Taça Guanabara seja de quem a merecer, de fato e de direito.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Sobre a torcida única nos estádios

A pedido do Ministério Público, o juiz Guilherme Schilling decidiu, em caráter liminar, é bom que se diga, que os clássicos regionais daqui por diante só poderão ter uma torcida. A manifestação do MP estadual foi motivada pelos graves confrontos ocorridos no último clássico entre Flamengo e Botafogo, cujo saldo foi de oito pessoas baleadas, sendo uma morta e duas gravemente feridas. Na verdade, a violência desmedida entre torcidas organizadas naquela partida foi apenas a gota d`água para a adoção de uma medida que já vinha de desenhando há tempos e, inclusive, já fora adotada em São Paulo e Minas.

Trata-se, todavia, de uma medida simplista, uma resposta pronta à sociedade e à mídia que clamavam por um basta nessa onda de violência que assola os estádios e seus arredores em dias de grandes jogos. O Poder Judiciário, chamado a intervir, não pode se omitir e foi por isso que o juiz decidiu.

A proibição de jogos com duas torcidas em clássicos retira a responsabilidade estatal e a transfere ao torcedor, uma vez que é dever do Estado zelar pela segurança do público que vai a uma partida de futebol. A questão, assim, é de segurança pública e se afasta do âmbito desportivo. Torcedores organizados que praticam crimes são menos torcedores que criminosos e devem ser tratados como tais, inclusive sendo alvo das políticas de segurança do Estado e dos órgãos de persecução penal.

A Justiça, com essa decisão de cunho proibitivo, na verdade retirou um grande peso das costas de um Estado que é ineficiente naquilo que é sua obrigação primeira: garantir a segurança e a liberdade de ir e vir de seus cidadãos. E, consequentemente, ajudou a por mais pá de terra num futebol moribundo, cujos romantismo e glamour se esvaem à medida que o Maracanã também se deteriora.

Qualquer estudioso de segurança pública e, mais especificamente da infiltração das organizações criminosas relacionadas ao tráfico de drogas nas torcidas organizadas, poderá dizer com mais propriedade que a solução para a violência entre as torcidas não passa nem de perto pelo que decidiu o nobre magistrado. A prova cabal e mais recente disso foi a brutal tentativa de homicídio que vitimou o torcedor tricolor Pedro Scudieri, que voltava para sua casa após um jogo do Fluminense contra a Portuguesa. Ou alguém pode imaginar que os agressores tenham sido torcedores do clube da Ilha do Governador?

Torcidas organizadas, não é de hoje, marcam seus confrontos pela internet. Na falta de um serviço de inteligência eficaz, porém, adota-se a resposta óbvia e inócua que, a bem da verdade, nada resolverá e apenas desincumbirá o Estado de sua função que é garantir a segurança de sua população.

Se quisessem realmente resolver o problema, ou pelo menos minimizá-lo, deveriam seguir nossas autoridades o exemplo inglês. Lá, o gravíssimo problema dos hooligans foi praticamente solucionado quando todos os times ingleses foram obrigados a instalar em seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras, a fim de que a polícia pudesse realizar um pente fino à procura de torcedores brigões. Localizado o torcedor indesejado, é imediatamente retirado do estádio. Além disso, há sempre um policial escalado para estudar o comportamento dos torcedores de cada clube profissional inglês, cujo relatório de informação ajuda na identificação dos torcedores mais perigosos.

Brasil não é Inglaterra, mas parece óbvio que um trabalho de inteligência policial bem desenvolvido pode ajudar a antecipar as ações desses criminosos, possibilitar suas prisões e evitar mortes. Não obstante, o Ministério Público e o Judiciário devem tratar os crimes praticados por esses vândalos com a gravidade que merecem, responsabilizando hordas de torcedores brigões como verdadeiras associações criminosas, o que afastaria, nesses casos, a competência dos Juizados Especiais Criminais que cuida apenas de delitos de menor potencial ofensivo e que nem mesmo ensejam a prisão.


Mas, ao invés de agir para resolver o problema, preferiu-se a saída mais fácil e menos onerosa para o Estado: a torcida única. Com essa decisão mata-se o futebol, mas não se mata o problema.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Abel Braga

Abel Braga já vinha reclamando do calendário de jogos neste início de temporada. Sem dizer claramente, podia-se ler nas entrelinhas que a sua irresignação era com a Primeira Liga. Abelão prefere o campeonato carioca. Decisão dele, da qual particularmente discordo, mas respeito.

Todo treinador tem suas manias e teimosias e Abel não foge à regra. Poderia ter poupado o time no campeonato carioca, competição em que o Flu já está classificado para a próxima fase. Não o fez de propósito, porque queria mostrar que o que lhe incomoda é a Primeira Liga.

Não discuto o mérito da sua decisão. Ele é o treinador e é regiamente pago para planejar e executar o que for melhor para o time. Assume os ônus e os bônus de suas decisões e deve ser cobrado ou celebrado por isso.

A derrota para o Internacional não foi boa para o Flu. Nunca é, mas penso que pelo menos uma constatação deve ter tido Abelão: o Fluminense não possui um elenco para disputar as principais competições nacionais. Tanto é que o planejamento Tricolor  que previa grupo fechado para o primeiro semestre, já está sendo reformulado. Pelo menos um novo reforço deve chegar ao Flu em breve.

Apesar de seu jeito simples e espontâneo, às vezes espontâneo e sincero demais, Abelão é um treinador que fala a linguagem do jogador, agregador e, sobretudo, um vencedor. Chegou ao Flu e apenas na conversa e com três reforços, mudou da água para o vinho uma equipe em que ninguém mais confiava.

É isso o que torcedor tricolor espera: uma equipe competitiva, aguerrida, vencedora. Talvez por isso as primeiras críticas após a derrota para o Internacional. Não pela derrota propriamente dita, mas pelas más lembranças de 2016. Quando o tricolor já vinha se acostumando a uma nova rotina de vitórias, o malogro foi uma ducha de água fria, principalmente porque o time colorado é muito fraco, dando a sensação, a quem assistiu à partida, de que o nosso time titular poderia vencê-los até com certa facilidade.

Além da quebra da boa sequência de vitórias, perder para o Inter talvez não traga consequências maiores. O Flu deverá se classificar na Primeira Liga, isto é, se Abelão entender que deve jogar de agora em diante com força máxima. Todos já entendemos que ele não aprova a competição que o Flu ajudou a criar, mas já chega. Ou a disputa seriamente ou não disputa mais.

Abelão, a meu ver errou pela primeira vez nessa nova passagem pelo Flu. Errará outras, mas para se avaliar o seu trabalho será preciso sopesar seus erros e acertos, ponderá-los e ao fim constatar o que prepondera.

De qualquer forma, Abel Braga não é homem de fugir das divididas. Se realmente continuar a preterir a Primeira Liga, deverá arcar com as consequências, especialmente se o Flu não conquistar o carioca, competição em que aposta as suas fichas.


Abel é o melhor que podemos ter no momento, é o responsável pela nova “cara” do Flu nesse início de temporada e merece toda a confiança da torcida tricolor, o que não me impede, nem a nenhum tricolor, de criticá-lo quando errar. E aí está, diferentemente de muitos treinadores, uma outra virtude de Abel: a de assumir seus erros e aprender com eles.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Humildade e luta

Após o jogo contra o Resende, fiz uma pequena brincadeira: “Com mais dois Orejuelas e mais  dois Sornozas fechamos o grupo e ganhamos tudo este ano. Com seis equatorianos não vai ter para ninguém.” É claro que a metáfora conota a evidente qualidade técnica dos dois reforços tricolores, mas exageros à parte todos sabemos que, apesar do bom começo, teremos um ano difícil pela frente.

A dificuldade estará principalmente em manter o equilíbrio do time quando não se tem um elenco capaz de suportar o desgaste das longas competições que se apresentarão durante o ano, sobretudo o campeonato brasileiro. A alma que Abel Braga deu ao time é suficiente para vermos uma equipe brigadora o tempo inteiro, mas sem um elenco mais qualificado, lesões, convocações e outros intercorrências podem desfalcar o Flu de suas peças mais importantes.

Temos alguns jogadores da base que podem ajudar. E estão ajudando, mas para almejarmos com chances reais que conquista alguma competição, o Flu precisará estar sempre no limite e precisará de ajuda também de fora das quatro linhas.

É por isso que além da presença da torcida, cujo apoio será fundamental na temporada, vejo com grata satisfação o retorno de um dos mais capacitados profissionais da medicina ao Fluminense. Independentemente de posições políticas, o Presidente Abad agiu como se deve agir quem tem o Tricolor como prioridade, trouxe o Dr. Michael Simoni para a função de diretor do Departamento de Saúde. Mais um reforço de qualidade que muito contribuirá para que nossos profissionais, dentro de campo, tenham toda a tranquilidade para desempenhar suas funções.

Os melhores nomes tricolores têm que fazer parte da gestão e, ao que parece, o Presidente tem isso como princípio: vaidades de lado, o que importa é e sempre será o Fluminense.

Ponto para Abad. Outro golaço foi a contratação de uma auditoria qualificada para examinar as contas tricolores. Medida acertada e prudente, que dará à nova Administração a exata dimensão dos erros e acertos da gestão anterior e mostrará o que deve ser corrigido e trabalhado. Além disso, possibilitará a responsabilização de quem por dolo ou culpa agiu contra os interesses do clube ou lhe trouxe prejuízos. Começar o trabalho com a casa em ordem é tudo de que o Flu precisa para poder seguir em frente sem as amarras do passado.

Vida nova para o Fluminense. Começar com o pé direito nos gramados e fora dele é um bom sinal, sinal de que mesmo com um orçamento enxuto, mas com um grupo engajado e uma administração focada nos interesses do clube, algo de bom pode acontecer.


Se não conquistarmos um título, teremos lutado. E o Fluminense deve ser assim, um time guerreiro que luta até o fim por seus objetivos. O resto é consequência.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Até onde podemos ir...

Com um orçamento enxuto e dívidas enormes, o Fluminense foi o clube que menos contratou – quando comparados aos seus rivais cariocas – para a temporada de 2017. Manteve praticamente a base que foi profundamente ineficaz em 2016.

Mas trouxe Abelão, que chegou dizendo que daria alma ao time. Trouxe Lucas, Orejuela e Sornoza.

Antes do primeiro jogo contra o Criciúma, eu havia dito que o Flu não tem elenco para ser campeão, tem apenas um time na conta do chá. Afirmei, ainda, que poderíamos ter alguma chance de levantar um caneco ou conquistar uma vaga para a Libertadores se Abel fizer o grupo de 2016 realmente resgatar sua alma, se os equatorianos se adaptarem e funcionarem bem e se a base que for convocada para ajudar realmente ajude. São muitos requisitos que devem estar presentes cumulativamente para que o tenhamos um ano minimamente feliz.

Reitero o que disse. O Fluminense só terá alguma chance se tudo isso acontecer.

Mas eu não quero ser pessimista. Na verdade, como disse na última postagem aqui no Panorama, sou um realista esperançoso, então posso afirmar que tudo isso aconteceu na partida contra o Criciúma: Abel resgatou a alma dos renegados de 2016 – vide Dourado, que embora não tenha marcado um gol, foi outro jogador; participativo, esforçado e solidário – os equatorianos foram muito bem – Sornoza, um jogador que, para a estreia, foi acima da média. Deu bons passes, jogou verticalmente, se deslocou com inteligência; Orejuela, jogando mais atrás, não errou um passe; a base funcionou bem quando foi convocada: Pedro fez um golaço e Lucas Fernandes entrou com muita personalidade.

Além disso, o que me chamou a atenção foi o preparo físico dos jogadores. Para a primeira partida oficial da temporada, o ritmo foi intenso e ninguém cansou.

O ponto negativo foi o calcanhar de aquiles do Flu nos últimos anos: a defesa, posição que Abelão conhece muito bem e deve trabalhar para corrigir as falhas do primeiro jogo.

O Flu, portanto, se houve bem na primeira partida, mas é preciso que todos os fatores que elenquei continuem harmonicamente conjugados e presentes nas próximas partidas do Tricolor. Com um ano longo pela frente, todos sabemos que isso será difícil de acontecer, malgrado ninguém espere que o Flu seja campeão de tudo, embora deseje. É nossa obrigação sonhar. Se a alma Tricolor resgatada por Abel, contudo, for a tônica de sua equipe durante a temporada, não tivermos as ausências dos equatorianos por longos períodos de tempo, os garotos da base continuarem sendo efetivos e as falhas defensivas forem corrigidas, seremos pelo menos competitivos, o que já seria um alento diante da crise financeira que assola o clube.

Contra o Vasco, adversário de maior envergadura, o Flu poderá dizer se a vitória contra o Criciúma foi mera obra do acaso ou se realmente Abel já começou a dar nova alma aos seus comandados. A minha opinião é a de que o Fluminense já tem uma cara nova, mas precisará da conjugação de todos aqueles fatores, em pelo menos uma das competições que disputar, para que a torcida possa comemorar algo.


E se dentro de campo o Flu precisará jogar no limite e ser sobretudo competitivo, fora dele a torcida terá papel fundamental para impulsioná-lo às vitórias. Uma pena, porém, que não há perspectivas otimistas de termos o Maracanã brevemente, palco eterno da torcida tricolor.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Bem-vindo 2017

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.” Escolhi esta frase do saudoso Ariano Suassuna para marcar o meu início de 2017. Confesso que desde o fim do mandato do ex-presidente Peter estes foram os meus sentimentos em relação ao Fluminense. Primeiro, o otimismo com a assunção do novo presidente, Abad, e a perspectiva e esperança de reconstrução de uma equipe que não funcionou em 2016; segundo, o pessimismo, ao perceber que não seria bem assim: além de Abel, vieram apenas os equatorianos Orejuela e Sornoza e o lateral Lucas, muito pouco para um Fluminense que precisa almejar títulos novamente; por último, o realismo esperançoso, a resignação do “é o que temos, então vamos com isso”.

A nova administração, embora muitos acreditem não ser tão nova assim, encontrou um passivo enorme de jogadores mal contratados, verdadeiros estorvos com salários elevados e que mostraram qualidade insuficiente para envergarem a camisa tricolor. Uma limpeza foi feita, mesmo que, em alguns casos, o clube tenha se desonerado menos do que gostaria. Responsabilidade de quem contratou mal e onerou um clube com as finanças já combalidas.

Diante do quadro encontrado, de despesas que não poderão ser totalmente eliminadas, restou ao Flu contratar pouco, pouquíssimo por sinal. Os equatorianos parecem ser uma boa aposta, Lucas, porém, uma incógnita. Para um clube que precisa pensar em títulos é pouco ou quase nada, sobretudo quando se sabe que é normal que nem todos os novos contratados emplaquem.

Aí, sem os reforços esperados, sobretudo para posições carentes como o ataque, as laterais e a defesa, surge o argumento de que se investirá na juventude, na rapidez, mesclando o antigo grupo, com os parcos reforços e jogadores da base.

O Fluminense não deu certo em 2016, repito, e a equipe basicamente foi mantida. Para que funcione como merece em 2017, os reforços e a base precisam deslanchar e Abel precisa fazer mágica, pois terá no máximo um time, mas não terá uma equipe qualificada durante toda a temporada.

Não creio que os dois Henriques estejam à altura de serem titulares desse time. São fragilíssimos. E ainda acho Leo um jogador que serviria para ser, no máximo, reserva. A zaga deveria ser composta por Renato Chaves e Nogueira, o melhor que temos, mas ainda uma defesa que não está à altura das tradições do clube. E o ataque, me parece que só se prestará a algo se Richarlisson justificar o investimento que foi feito. Do Dourado nada espero (que eu queime a língua).

Há nomes como Marquinhos Calazans, Pedro, Danielzinho, base tricolor que pode ajudar, mas não imagino que sejam a solução, pelo menos imediatamente.

Por outro lado, parece que teremos um meio de campo mais forte, o que é importante tanto para municiar o ataque, quanto para proteger a defesa.

O Flu pisa em 2017 como o clube carioca que menos se reforçou. Já houve outros anos, porém, em que contratou demais e nada deu certo. Estará nas mãos de Abel Braga o destino desse grupo, que entra como verdadeiro azarão, sem qualquer glamour, mas como disse o próprio treinador, com alma nova.

Se o Fluminense der o sangue dentro de campo todo esse realismo se converterá em esperança e a esperança, quem sabe, numa vaga para a Libertadores ou num título.


Hoje, parodiando Suassuna, não sou um pessimista nem um otimista, sou um realista esperançoso. Amanhã, eu só quero ser campeão.